Nesta terça-feira (09), a presença pela primeira vez de um estudante surdo marcou a 4ª Reunião Ordinária do Consepe, realizada na Reitoria do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT). Representando o Campus Barra do Garças, a participação presencial de Marcelo Duarte simboliza um importante momento de pertencimento e representatividade para o estudante e para a instituição como um todo.
“Ter sido escolhido como representante do Campus Barra do Garças me causou uma grande expectativa de participar presencialmente dessa reunião. Eu não conhecia antes a Reitoria do IFMT e não tinha nenhum tipo de experiência nesse sentido.”, conta Marcelo.
Egresso do curso Técnico em Alimentos Integrado ao Ensino Médio, atualmente o estudante de Barra do Garças — município a cerca de 520 quilômetros da capital — cursa o 4° semestre do Bacharelado em Administração no campus e demonstra estar muito contente com a oportunidade de se tornar conselheiro pelo Consepe. O órgão, responsável por exercer funções normativas, consultivas e deliberativas sobre as políticas de ensino, pesquisa e extensão da instituição, discute processos relevantes para o desenvolvimento institucional e, nesta ocasião, contou com a presença de Marcelo pela primeira vez.
O estudante foi indicado após a saída da discente Luísa Corbari, representante anterior do campus no Consepe, que concluiu o curso em março. A sugestão partiu dos coordenadores dos cursos superiores, com apoio principal do professor Marco Antônio, que já havia trabalhado com Marcelo no ensino médio e também no curso superior.
 O estudante Marcelo Duarte acompanhando a 4ª Reunião Ordinária do Consepe, realizada na Reitoria do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT)
O estudante Marcelo Duarte acompanhando a 4ª Reunião Ordinária do Consepe, realizada na Reitoria do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT)
Comunicação inclusiva e acessibilidade sob diferentes perspectivas
Marcelo acredita que a nomeação tem um impacto pessoal significativo e ressalta a importância de dar visibilidade a estudantes surdos em espaços de decisão, como o Consepe, reforçando o papel fundamental da comunicação inclusiva. “A presença do profissional intérprete presencialmente vai facilitar muito esse diálogo, tanto na interação quanto nas adaptações que vão ser feitas para as pessoas com deficiência.”
Ao ser perguntado sobre quais medidas considera necessárias para ampliar a acessibilidade no IFMT, Marcelo não se limitou a indicar ações voltadas apenas para estudantes surdos. Ele destacou a importância de considerar as especificidades de cada deficiência no processo de construção de uma instituição mais inclusiva:
“É importante que o atendimento ocorra de acordo com a especificidade da deficiência e o nível de ensino do estudante. Se for um estudante com deficiência física, por exemplo, é preciso garantir acessibilidade arquitetônica, como rampas e elevadores.”, destaca Marcelo, reforçando que a inclusão deve ser personalizada e estruturada de forma realista.
Para além dos aspectos estruturais, o estudante de Administração enfatiza que é essencial que estudantes com deficiência, inclusive os surdos, ocupem posições de liderança estudantil, exercendo seus direitos para propor transformações na vida acadêmica e, posteriormente, em outros âmbitos da sociedade. Marcelo reconhece a importância dos espaços que ocupa e busca garantir que sua presença seja visível nos debates dos quais participa, seja no Consepe ou em qualquer outro lugar.
“É importante que pessoas com deficiência se esforcem para ocupar esses espaços. Primeiro, é preciso ter o desejo de participar. Isso dá visibilidade — porque muitas vezes essas pessoas são invisíveis dentro da instituição.”
Marcelo entende a importância dos lugares que ocupa e busca agir fortemente para que sua presença seja devidamente visível nos debates em que participa, seja no Consepe do IFMT ou em qualquer outro lugar.
Liderança estudantil e compromisso com a acessibilidade
Mais do que um sentimento de representação, a participação de Marcelo nesta reunião também é motivo de orgulho para quem o acompanha de perto. A diretora-geral do Campus Barra do Garças, Renata Lopes, reconhece a dimensão que ações como essa podem ter no fortalecimento de movimentos de inclusão:
“Nós optamos por indicar o estudante Marcelo Duarte, que é um aluno surdo, bastante politizado, se envolve com as atividades do Campus e quer conhecer um pouco mais a instituição.”. Com ênfase no protagonismo estudantil e na busca por maior representatividade nas instâncias decisórias, Renata destaca a escolha intencional de um estudante surdo para representar o campus no Consepe.
“As questões de acessibilidade dentro do Consepe, elas já existem, mas a gente vai testando isso no outro formato agora, com um membro conselheiro que é uma pessoa surda.”, ressalta.
A diretora-geral reconhece os desafios que ainda precisam ser enfrentados para garantir a plena acessibilidade nos espaços institucionais, mas também aponta que a presença de Marcelo já tem provocado adaptações e melhorias, contribuindo para um processo institucional mais inclusivo e consciente.
Texto: Andrey Bonfim – Estagiário – RTR
Revisão: Rafaela Souza – Jornalista – RTR
 
								 
															

