"Este é um livro diferente. Livre. Fora dos paradigmas ocidentais de escrita. Portanto, não se prende tão somente aos padrões de escrita, tampouco aos gêneros textuais. Este livro está a serviço das histórias de vida, da genuína intelectualidade e poesia das autoras que realizam, com esta obra, um antigo sonho nutrido por suas almas: terem, juntas, o seu primeiro livro publicado."
Neste trecho de apresentação da obra “Mulheres em versos e prosas - Teresa de Benguela” realizando sonhos de escritoras", organizada pelos docentes do Instituto Federal de Mato Grosso campus Barra do Garças Joelias Silva Pinto Junior e Lirian Keli dos Santos, e pela professora de letramento sistêmico Suety Líbia, é possível sentir um pouco das “dores e delícias” vivenciadas pelas escritoras participantes do projeto extensionista “Teresa escreve”, que deu origem ao livro.
A obra será lançada no Espaço IFMTexto: nossas letras da oitava edição do Workshop de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação – WorkIF 2023, no próximo dia 26, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá. Nela estão retratadas as histórias de vida, as lutas e os sonhos de seis mulheres participantes das oficinas de escrita e letramentos sistêmicos realizadas no período de agosto a dezembro de 2021.
Os seis capítulos
A vida entre causos e muitos risos
Sirley Alves Sobrinho Silva Pinto, registrou situações inusitadas vividas por ela na cidade de Inhumas em Goiás, onde reside.
“Aprendi que precisamos abraçar a oportunidade quando ela bate em nossa porta. E eu a abracei com todas as minhas histórias. Com a ajuda dos professores poderei levar minhas histórias para outras pessoas, outras cidades e quem sabe, outros países?”, afirmou, sobre a participação no projeto.
A Mulher Indígena Guerreira de três naçoes: Yawalapiti, Kamaiurá, Trumai
Kaiulú Yawalapiti Kamaiurá, indígena descendente das etnias Yawalapiti e Kamaiurá, no Xingú, tem 42 anos, é mãe de seis filhos e presidente da Associação Feminista “Yamurikumã” de Mulheres Xinguanas.
Em seus escritos, Kaiulú diz que as mulheres indígenas estão vivenciando tempos de mudanças, de reflexão, e em seu entendimento este é o momento de “nos fortalecermos e ocuparmos espaços de discussões de forma participativa”.
Sobre a oportunidade de “aprender um pouco mais a escrita e saber escrever a própria história”, contou que “esse projeto veio para despertar o espírito da mulher indígena escritora. Isso mostrou que nós mulheres indígenas, assim como outras mulheres não indígenas, temos capacidade de relatar nossa própria história. Estou muito feliz, por um sonho realizado e espero que este trabalho seja o primeiro de outros que virão”.
Vida na Aldeia: Cultura e Tradição a Partir do Olhar Feminino Kamaiurá
A vida de uma mulher indígena que vive duas culturas diferentes, sua cultura tradicional e a do não indígena é o ponto de partida das reflexões de Sula Fernanda Akuku Kamaiurá.
“Escrever um livro sobre a minha vida pessoal trouxe uma representatividade da identidade da mulher indígena. Colocar no papel uma história real, traz o foco para as lutas de muitas mulheres indígenas que ainda não tiveram oportunidade de se destacar e falar sobre seu cotidiano e desafios”.
Nesse projeto chamou sua atenção a importância da escrita na vida da humanidade e, principalmente, para as mulheres indígenas do Xingu.
“Vejo que as práticas de estudo precisam ser valorizadas por nós. Porque a nossa realidade ainda se encontra na fase de precariedade de estudar e praticar a escrita no dia-a-dia, apesar de termos acesso às escolas nas nossas aldeias”.
Marília: Diário de uma mulher maranhense
O tempo, os filhos, a amizade, a liberdade, a tristeza e o amor serviram de inspiração para os textos da moradora de Imperatriz, no Maranhão, Marília Conceição Nogueira.
“Participar da produção desse livro foi a realização de um sonho de infância, é imensurável a satisfação de me sentir tão capaz. Descobri que uando você acredita no seu sonho, deve acreditar também nas pessoas que te incentivam, pra fazer algo bom e útil pra você mesma e pra outras pessoas também."
História de vida e cultura
Aianuke Wasitxuwalu rememorou sua relação com o avô Malakuyawa e as lições de vida por ele ensinadas através de comidas indígenas como peixe de pirão, assado, moqueado, beiju, tapioca e sal de água pé.
Minha queda em ascensão, por Gabrielle Cavalcante Targa, egressa do curso técnico integrado em agropecuária do campus São Vicente (2022)
“Quando penso em todos os momentos que vivi, não deixo de me sentir ansiosa sobre o futuro. Como mulher sempre penso que coisas ruins podem acontecer, como se minha força não fosse o suficiente. Escrever este livro ao lado de mulheres tão incríveis foi um marco para uma jornada interna intensa. Aprendi a amadurecer, a ser forte e não desistir. Como a mais nova no projeto, acreditava que não tinha nada a ensinar, mas descobri que podemos nos tornar nossa melhor versão, não importa a nossa idade. Pude crescer e por isso sou grata a todas estas mulheres fortes e corajosas”.
Sobre os esforços para a realização do projeto e assegurar a participação de todas as mulheres, os organizadores citaram a criação de um canal de comunicação, através de aplicativo de mensagens, específico para as autoras que não conseguiam sinal de internet suficiente para estar online nas aulas.
“E, assim, com oficinas online em tempo real e um bocado de orientação assíncrona via mensagem também, chegamos até aqui, a este resultado que ao ler, nos inspira, brilha os olhos, aquece o coração, provoca o riso, a compaixão, a sororidade e até algumas lágrimas de emoção.”
O livro Mulheres em versos e prosas - Teresa de Benguela realizando sonhos de escritoras está disponível para download gratuito da versão digital em: https://www.rfbeditora.com/ebook-2023/88bcc9aa-da86-4b08-ba4b-f944eb46acbf
Confira a programação completa de lançamentos de obras no espaço IFMTexto: nossas letras